PUC-SP | PPGCOS | Christine Mello | 2025 | 2o. semestre
Regimes de Sentido nas Poéticas: procedimentos conceituais entre as redes audiovisuais, o cinema, a performance e a arte contemporânea
POÉTICAS E PROPOSIÇÕES CONTEMPORÂNEAS
apontamentos introdutórios
as práticas artísticas em suas relações com a cultura contemporânea
Poética – poiesis – Arte poietica – A arte da poíesis – do grego antigo –
Aristóteles (Grécia Antiga, 384 a.C. – 322 a.C)
Fabrica – o conjunto de princípios que regulam o fazer artístico – compreender determinados sentidos operatórios –
O jogo poético – conhecer as regras do jogo – os princípios que regulam o pensar criativo – que inauguram uma poética singular
a partir de Edilamar Galvão (São Paulo, 09/03/17)
REGIMES DA ARTE – ARTE EM SUAS SINGULARIDADES
a partir de Jacques Rancière: A partilha do sensível: estética e política (2005)
capítulo 2: Dos regimes da arte e do pouco interesse da noção de modernidade
Regime ético (modos de ser – ethos – indivíduos e coletividades) – a experiência coletiva no campo da cultura. “essa questão impede a “arte” de se individualizar enquanto tal”.
Regime poético (modos de fazer):
“Não é um procedimento artístico, mas um regime de visibilidade das artes” (p. 31).
“Um regime de visibilidade das artes é, ao mesmo tempo, o que autonomiza as artes, mas também o que articula essa autonomia a uma ordem geral das maneiras de fazer e das ocupações” (p. 31-32).
Regime estético (modos de ser sensível próprio aos produtos, objetos, da arte) – da ordem do sensível, “identifica a arte no singular e desobriga essa arte de toda e qualquer regra específica, de toda hierarquia de temas, gêneros e artes” (p. 33-34) – a modernidade – faz da arte uma “forma autônoma de vida”(p.37).
Em nossos estudos sobre os Regimes de Sentido nas Poéticas não nos interessa uma classificação de maneiras de fazer, ver e julgar sob a perspectiva da “identidade da forma”, da crítica formalista, mas compreender que “é a vida que indica o caminho das formas”.
No século XX, em Cristina Freire, significa estudar regimes poéticos a partir da arte em suas relações sociais, da arte fundida com a vida, da arte e vida cotidiana, que incorporam o efêmero, o transitório, a temporalização do espaço, o tempo real, as linguagens corpóreas e midiáticas, que se referem a lugares específicos, a contextos (histórico, social ou político), que evidenciam o sentido do processo nas poéticas:
POÉTICAS DO PROCESSO: a arte como processo
a partir do livro de Cristina Freire: Poéticas do processo: arte conceitual no museu
(São Paulo: Editora Iluminuras, 1999)
capítulo 1: Arte conceitual no MAC-USP: um ponto de partida
capítulo 2: Arte conceitual e as instituições: um enquadramento para análise
“Esta noção implica na revisão de categorias tradicionalmente ligadas às obras de arte que se fundamentam no culto renascentista do objeto autônomo” (p. 29)
“São utilizados os mais variados meios e técnicas: fotografias, xerox, off-sets, vídeos e filmes. Algumas características são comuns às proposições conceituais: a transitoriedade, o quantitativismo (no caso da arte postal), a reprodutibilidade, o sistema alternativo de circulação e distribuição” (p. 30).
“As poéticas conceituais materializam, frequentemente, através da chamada desmaterialização da obra, uma crítica às instituições e sua lógica de operações excludentes” (p. 30).
“Passamos a considerar como obra de arte também o corpo em performance, trabalhos produzidos em meios tecnológicos como vídeo e computador, projetos realizados em locais ermos e inacessíveis, projetos de trabalhos, às vezes, nunca realizados” (p. 31)
“A noção de arte como conceito, como elemento referente a um contexto (de linguagem) do qual se depreende seu sentido e valor, remete mais uma vez a Marcel Duchamp, que operando com ideias jogou com seus sentidos dentro do sistema de valores e representações. O campo da arte se expande, portanto, do estético – eminentemente retiniano – para o artístico, que envolve conceitos, ideias, valores e representações que se estendem além dos limites da percepção visual. Nessa perspectiva, é importante frisar, o significado de uma obra não se instala dentro de si, mas através do lugar que ocupa num determinado sistema de valores e representações do qual participa.” (p. 50)
“A arte postal transfere o foco do que é tradicionalmente chamado de arte para o conceito mais amplo de cultura. Essa mudança é o que faz a arte postal realmente contemporânea. A arte postal enfatiza estratégias culturais onde estariam os limites entre o trabalho do artista e a organização e distribuição desse trabalho. Os artistas podem escolher o sistema de distribuição como estrutura mesma desse trabalho. Nesse sentido, tais estratégias são suas componentes formais”
Ulisses Carrion (Cidade do México, 1941-1989) in p. 78
Com as POÉTICAS DO PROCESSO significa pensar:
Regime poético (como modos de fazer em processo, em contexto e lugar situado, in situ):
Trata-se de procedimentos conceituais que não operam como regime de representação (autonomia da arte, próprio a uma ação indireta, abstrata, com o mundo), mas procedimentos conceituais que operam com a vida (próprio a uma ação direta, processual, corpórea com o mundo), que operam como regime de apresentação (arte como prática vital, como processo).
POÉTICAS E PROPOSIÇÕES CONTEMPORÂNEAS
apontamentos a partir do livro de Emanuele Coccia (Itália, 1976):
A virada vegetal (São Paulo: Editora N-1/Série Pandemia, 2019)
as práticas artísticas em suas relações com FORMA DO MUNDO/FORMA DE VIDA
e a sociedade no século XXI
https://pt.scribd.com/document/594577960/A-virada-vegetal-Coccia
“A origem do mundo está em todo lugar, e existe em cada instante.
Ela não é um acontecimento singular, um big bang,
mas um processo constantemente em curso (a fotossíntese).
O mundo começa sempre no meio, e não para nunca de começar.
Não há distinção possível entre cosmologia (astronomia) e cosmogonia (cosmogênese)
ou, melhor dizendo, não há senão uma cosmogonia múltipla e perpétua.
(…) Toda FORMA DE VIDA é também uma FORMA DO MUNDO,
que ela a um só tempo produz e contempla.
É por isso que para OBSERVAR O MUNDO,
não precisamos de um PONTO DE VISTA, e sim de um PONTO DE VIDA:
o universo vive, ele é, em toda escala, um produto vivente,
e é somente ao vivê-lo que se poderá explica-lo, não o inverso.”
(COCCIA, p. 11)
No século XXI, em tempos de emergências climáticas e crises ininterruptas, Emanule Coccia nos faz repensar a nossa relação com a natureza: que não somos apenas parte da natureza, mas SOMOS A NATUREZA.
Nos faz refletir a partir da diversidade como princípio para compreendermos a conexão entre espécies e a relação com a VIDA: o regime interespécie.
Em contrapartida, é possível observarmos deslocamentos nos regimes de sentido nas poéticas: de um Regime Poético da ARTE E VIDA/POÉTICAS DO PROCESSO (em Cristina Freire) para um Regime Poético da ARTE COM O VIVO E COM O NÃO VIVO (em Emanuele Coccia).
https://www.ekac.org/teleporting.html
Mudança de paradigma
Da noção de mundo como algo fabricado pelo homem advém a noção de POIESIS em ARISTÓTELES, gera a noção de instrumento/obra/construção e a noção de
GESTALT – como FORMA
Trata-se da divisão ontológica entre sujeito – máquina – mundo,
o sujeito como ponto central do mundo.
Quando “estar no mundo” resulta na noção de ponto de vista: a separação entre indivíduo e mundo, natureza e técnica
Para a noção de mundo como algo fabricado pela vida vegetal advém em Emanuele Coccia a noção de
BILDUNG – como FORMAÇÃO,
Gera a noção de “SENDO COM” (becoming with) – estar em construção: a noção de POIESES em DONNA HARAWAY
Trata-se de compreender o sujeito deslocado do centro do mundo e de compreender os chamados agenciamentos interespécies.
Quando o “fazer o mundo” resulta na noção de ponto de vida: a NÃO separação entre indivíduo e mundo, a não separação entre natureza e técnica.
A partir do livro Extremidades do vídeo (Christine Mello, 2008, p. 216), sob a forma de ação colaborativa, compartilhamento e ponta extrema com os procedimentos contemporâneos da arte, observamos a obra Desertesejo (2000-2014-2025) e, mais recente, Amoreiras (2010), de Gilbertto Prado (Santos, 1954):
http://www.mac.usp.br/mac/expos/2025/gilberttoprado/index.html