binariedade da língua: uma reflexão

Eu comprei minha #identidade,
faça como eu:
compre uma também.
(Critical Art Ensemble – Distúrbio Eletrônico, 2001)

O grande #paradoxo da presença da #tecnologia no cotidiano é a sobrecarga de informação, que cria a #ilusão de um acesso democrático relacionado a evolução tecnológica, gerando uma nova #geografia de poder político, uma #geografia virtual, com #fronteiras criadas pelo domínio de #dados e monopólios de produção, distribuição e acesso à informação. Tal fato é alicerçado pelo aumento da aquisição que as pessoas têm da #tecnologia.  Com isso há o aumento da impressão gradativa de poder. Mas, como sabemos, isso é ilusório, trata-se de uma tática de marketing das grandes empresas, baseada na leitura de presença por #dados, para introduzir as pessoas num programa de capital monetizado das informações.

“O Sujeito: nasceu para consumir só pelo prazer de consumir. Só por causa do prazer de consumir, O consumo em massa necessita do autoconsumo, só pelo prazer de se autoconsumir. (…) Só por causa do prazer de sê-lo, o consumo excessivo é a lógica do narcisismo econômico, só pelo prazer de sê-lo.”
(Critical Art Ensemble – Distúrbio Eletrônico, 2001)

A falsa sensação de #autonomia criada pelas grandes corporações tecnológicas são incorporadas pela presença das redes sociais como nossa principal fonte de comunicação. Ao estimular uma pretensa sensação de #liberdade, o desejo de pertencimento e aceitação pelas ações performativas em #rede reflete o vídeo do compartilhamento de imagens. Neste sentido, buscar fugir desse fenômeno, significa ir ao encontro de  processos de resistência cultural, apresentados por um regime estético da confusão conforme indica CAE. Com isso tem lugar o fenômeno da manipulação, recombinação e recontextualização dos símbolos nas redes sociais, por mais efêmeros que sejam. É disso que se trata refletir de modo crítico a presente curadoria online em rede. 

Em uma sociedade onde a linguagem escrita e suas normas se apresentam como uma ferramenta dominadora, induzindo ou possibilitando a propagação de pré-conceitos e  alimentando segregacionistas.  como mostra bell hooks em seu texto #alíngua.

Em #alíngua bell hooks apresenta uma visão sobre o poder da #língua  inglesa em amedrontar e segregar os africanos, retirados de seus países de origem e escravizados por força de uma cultura colonizadora. Além disso ela mostra a relevância que tais povos se responsabilizaram em  tomar para si a “língua do opressor”,  incluindo, com isso, novos padrões dentro dessa mesma #língua

Desse modo, em uma sociedade onde a linguagem escrita e suas normas se apresentam como uma ferramenta dominadora, induzindo ou possibilitando a propagação de pré-conceitos e alimentando #gestos segregacionistas, tal qual na nossa sociedade colonial patriarcal, de origem portuguesa, compreendemos a importância de problematizar-mos #alíngua em suas extremidades, nos deslocamentos existentes entre aquilo que é considerado como #língua portuguesa e a amplitude das condições culturais que nela permitem que uma comunidade seja aquilo que ela quer ser, como em Michel de Certeau em seu A cultura no plural.

Esperamos levantar aqui, com isso, certas discussões emergentes que em tempos de pandemia requisitam a tomada de poder pela #língua tendo como princípio meios de comunicação mais democráticos. 

Nesse sentido as imagens e as novas possibilidades de escrita, como a linguagem não binária, surgem como um meio de fuga e resistência abrindo possibilidades para uma comunicação horizontal, onde a alfabetização seguida de forma exemplar e os padrões gramaticais não se fazem mais fundamentais. E onde interessa mais a dominação da #língua  e penetração com novas construções, sem artigos em textos e falas formais ou não formais, e intervenções imagéticas, como a proposta aqui,  nos principais aplicativos de comunicação para assim tentar tornar #alíngua menos excludente. Vemos essa tomada de poder linguístico nas discussões em torno da escrita neutra/inclusiva de gêneros não binários, muito discutida e usadas hoje nas redes sociais, como a utilização da vogal “e” e “i” no lugar dos artigos e pronomes pessoais  como por exemplo: no lugar de “ele” e “ela” usar o “ili”, minha e meu vai virar “mili”, todos se tornam “todes”, etc. Como uma forma de neutralizar a imposição do #gênero dentro da sintaxe gramatical e desta forma propiciar uma maior inclusão.