ATO 3 (2021)

Imagem de Fernanda Mie Kimura



Uma residência artística tem, por definição, o deslocamento a lugares para a criação de processos criativos. Como viabilizar, num ambiente virtual, a reformulação de encontros que potencializem e atualizem experiências análogas às proporcionadas por uma residência presencial, atendendo às limitações do cenário atual? Participar do evento Lab-eXtremidades, coordenado por Christine Mello e Larissa Macedo, foi uma experiência motivadora para o acontecimento urgente da residência que aconteceu durante os dias 03 a 07 de maio de 2021, concomitante ao processo da pesquisa.

As artistas participaram generosamente de forma colaborativa e o ambiente acolhedor e informal foi sendo construído por todas, que compartilhando seus processos, projetos, pensamentos e intimidades, desenharam juntas a maneira que a residência foi acontecendo, com base na programação sugerida.

Dessa forma, partindo da construção colaborativa de todas, foram se pronunciando as urgências pessoais e coletivas discutidas durante os encontros, compondo assim, um ambiente de trocas e afetos numa plataforma online sob uma nova estética – uma ferramenta de produção de conhecimento.



Primeiro dia (03/05)

No primeiro encontro foram feitas as apresentações das participantes e da Residência, além de abordar as expectativas e questões de cada uma em relação ao evento.


Segundo dia (04/05)

A materialidade e imaterialidade foram os principais assuntos do segundo dia de Residência, discutindo o toque – as mãos, a poética da manualidade, o contato e o tato – e o cheiro – a alquimia mental -, causando assim, ativações das experiências pessoais e das memórias que eram acionadas em cada uma a partir do cheiro.


Terceiro dia (05/05)

Durante o terceiro dia de Residência, a artista e dançarina Ayeska Ariza, que trabalha com o corpo e dá aulas de consciência corporal e autocuidado, proporcionou alguns exercícios envolvendo o corpo, respiração e relaxamento, criando e trazendo o pensamento do movimento no agora, convidando todas as participantes à experimentar as formas e potencialidades de cada corpo. Após este encontro, as participantes puderam compartilhar as experiências e sensações que tiveram ao longo dos exercícios.


Quarto dia (06/05)

Assuntos da atualidade foram trazidos no quarto dia, viabilizando uma discussão sobre a educação, a política e a sociedade, além da sua base estrutural, ou seja, a forma e sob quais ideologias em que esta foi criada, nela incluído o racismo e machismo. Questões de identidade e pertencimento também foram levantadas, bem como das condições psicológicas e suas possíveis consequências.


Quinto dia (07/05)

O último encontro trouxe um dos temas mais emergentes do mundo atual: a nova realidade digital e pandêmica que estamos vivendo por conta da COVID-19. De que forma isso nos afeta? Como estar presente neste novo ambiente? E o que é estar presente neste contexto de pandemia? Como a arte reage em relação a isso?
Foram discutidas também questões do íntimo e do privado, que de certa forma, se torna um tanta coletivo a partir do momento que permitimos a entrada – em nossa casa e quartos – de todas as pessoas durante uma reunião de Zoom – um novo lugar de intimidade -, além da maneira como cada um está lidando com a pandemia e quais as consequências delas no âmbito psicológico, físico, sentimental, criativo e artístico.


Artistas participantes


Malka Borenstein
Malka Borenstein (1967, Mogi das Cruzes, São Paulo) é artista, dedica-se a pintura, performance e instalações. Possui bacharelado em Administração e Pós-Graduação em Práticas Contemporâneas. Atualmente mestranda na PUC-SP, no curso de Comunicação e Semiótica, na área de concentração: Signo e Significação nos Processos Comunicacionais, sob orientação da Professora Christine Mello. Com a pesquisa interdisciplinar entre Comunicação e Arte, busca reflexões que partem dos regimes de sentido presença, e do compartilhamento a partir de vivências processuais e culturais. É membro do Grupo de Pesquisa Extremidades: redes audiovisuais, cinema, performance e arte contemporânea, coordenado por Christine Mello e Larissa Macêdo e é integrante do Lab-eXtremidades, do qual busca fomentar processos de ativação de estudos, oficinas e encontros abertos ao público.

Andrea Barcelos
Andrea Barcelos é uma arquiteta urbanista que transita entre obras de arte e engenharia. Realizou trabalhos em arquitetura efêmera com instalações pneumáticas na cidade de São Paulo: na Av. Paulista, no Parque do Anhangabaú e Cidade Universitária. Elabora oficinas de produção de infláveis para transmitir conceitos básicos da produção arquitetônica através da experiência criativa. Produz croquis, aquarelas, storyboards, modelagem 3D m desenho vetorial e narrativas gráficas.

Fernanda Bittencourt
Fernanda Bittencourt, 20 anos, aluna de Artes Visuais na FAAP. Considero minha produção muito ligada à política e atualmente minha pesquisa está mais direcionada a assuntos como colorismo e TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo).

Fernanda Chieco

Fernanda Mie Kimura
Fernanda Mie Kimura (2000, São Paulo – SP) é artista e atualmente está cursando Bacharelado em Artes Visuais na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP). Busca experimentar as diversas linguagens artísticas, ampliar e desenvolver conhecimento e investigações para com seus trabalhos.
Por meio de suas pesquisas e reflexões explora suas experiências pessoais, como as suas questões psicológicas e o racismo amarelo, que é o seu foco principal atual. A linguagem fotográfica, têxtil, performática, de escultura, pintura e desenho, além da sua execução, são formas de tradução dos seus interesses individuais, mas os desenvolvendo e costurando ao coletivo.

Heloísa Franco
Heloisa Franco, 24 anos, vive e trabalho em São Paulo. Em 2018 me formei como bacharel em artes visuais na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).Trabalho com pintura desde 2016 e procuro imagens que morem nos corpos, incluindo o meu próprio corpo. Tento pintar coisas que existam e transitem por debaixo de dois terrenos: a abstração e a figuração.

Isabella Vatavuk
Isabela Vatavuk (2001) é formanda em Artes Visuais pela FAAP, com interesse que trafega entre objetos, videoarte e obras digitais. Atualmente integra o coletivo alterquia, focado em criações e formação de público em arte contemporânea, tendo já desenvolvido projetos em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Curitiba.

Isabelle Passos
Isabelle Passos de Jesus, 24 anos e mantem ateliê e residência em São Paulo. Formada em Licenciatura em Artes Visuais pela Fundação Armando Alvares Penteado desde 2018. Trabalho com desenho e pesquiso construção de narrativas e histórias como criação de tramas que podemos manusear.

Juliana Murbach
Juliana Cristina Murbach Januário, 19 anos, cursando graduação de Bacharelado em Artes Visuais na FAAP desde 2019. Minha pesquisa mais latente tem como assunto, matéria e meio, o meu corpo e suas afetações em relação ao Eu e ao Social.
Muito do que fiz até o momento entendo como início para um processo, pessoalmente acho que arte é isso, nunca de fato o trabalho está terminado e vai estar em constante soma além de possível ressignificação. O público/coletivo tem uma importância muito grande pra mim, entendendo que ele tem influência em como uma performance e ou ação se discorre e sobre o que que vai nos conectar.

Karola Braga
Karola Braga (1988, São Caetano do Sul, Brasil) é Mestranda em Poéticas Visuais pela Universidade de São Paulo (ECA/USP) e Bacharel em Artes Plásticas pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).
Karola Braga (1988, São Caetano do Sul, Brasil) é Mestranda em Poéticas Visuais pela Universidade de São Paulo (ECA/USP) e Bacharel em Artes Plásticas pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).

Márcia Porto
Opera no campo simbólico. Explora a relação entre literatura, fontes históricas, alquimia, histórias pessoais e eventos atuais. Cria narrativas auto-ficcionais contaminadas por essas referências. As narrativas se desdobram em séries de desenhos onde a presença das Ginaiques, um grupo de mulheres simultaneamente auto-referenciais e estrangeiras, e que se comunicam através de longas tranças, é recorrente.
Entre a palavra e a criação da imagem, interpreta ritualisticamente as cenas que aparecem. Dessas performances nascem os movimentos, os gestos e o tempo das composições dos desenhos. Pensamentos multifacetados, os desenhos também são retrabalhados em pinturas, murais, instalações e performances, onde experimento estender as relações espaciais e ritualísticas geradas nas narrativas através de operações recorrentes.


Referências bibliográficas

“A Dívida Impagável”, Denise Ferreira da Silva

“Breviário Sobre o Corpo”, Lygia Clark

“Caosmose”, Felix Guatarri

“Cartas 1964-1974”, Lygia Clark e Helio Oiticica

“Cartografia Sentimental”, Suely Rolnik

“Extremidades do Vídeo”, Christine Mello

“Gesto Inacabado”, Cecília Salles

“O Corpo Utópico”, Michael Foucault

“O Segundo Sexo” vol. 1, Simone de Beauvoir

“O Segundo Sexo” vol. 2, Simone de Beauvoir

“Uma Insólita Viagem à Subjetividade: Fronteiras com a Ética e Cultura”, Suely Rolnik