ATO 1: VAI PASSAR – INSTALAÇÃO 2019

A instalação Vai Passar na Oficina Cultural Oswald de Andrade foi composta por um percurso linear que foi criado por uma estrutura de nove metros de comprimento com mais de dois metros de altura e aproximadamente dois metros de largura, com sete passagens de materiais diferentes cada uma. A instalação era aberta nas laterais e entre as passagens era possível atravessar sem uma ordem imposta.
Os materiais criavam uma certa resistência pelas tramas que se entrelaçaram do teto ao chão, e a partir da relação sensória e gestual do contato do corpo com os materiais em contato, poderia potencializar faturas e tessituras para contribuir com a ativação de memórias individuais dos participantes.


O público, então, foi convidado a tatear os materiais que compunham as passagens para conseguir atravessar a instalação, um enfrentamento a muitas tramas que se desenharam em cada espaço das passagens era necessário, um chamado à presença do corpo e mente em sintonia com a experiência relacional com a instalação. O atravessamento, para acontecer e envolver o espectador na camada da experiência da instalação Vai Passar, precisava de uma consciência por parte do participante, uma disponibilidade de tempo e atenção, ou seja, era esperado ativar um estado de presença durante a interação com a obra. Assim, diante de tais definições a proposta do trabalho era proporcionar uma experiência estética, sensorial e individual a cada participante.

Instalação Vai Passar, 2019, Malka Borenstein. Imagem: Malka Borenstein

Além da interação do corpo com as passagens, foi disponibilizado como partda instalação um banco ao lado. Para os espectadores que não estavam disponíveis para a relação do corpo com a obra, ficava um convite à observação, uma outra relação com a obra e as passagens, um outro estado de presença, de sentar, descansar e observar. Se tornou uma rotina naquele espaço, onde a instalação estava sempre ocupada por algum passante ou por alguém que desejasse ficar e estar.


A instalação era aberta por todo seu comprimento, com rampas de acessibilidade ao longo da instalação, oferecendo autonomia e liberdade para fazer o trajeto em sentido pela escolha do participante. E mesmo assim foi percebido, que as pessoas tinham uma memória de padrões de sentido, com imagens de símbolos e signos de avisos de espaço, e entravam na instalação como se fossem fazer uma performance de atividade física, esportiva com caráter competitivo. Havia uma preocupação com um tempo de duração, como se fosse um padrão entre os participantes, no sentido de determinar um início e um término, mesmo não tendo nenhum aviso escrito ou determinante de tal trajeto. Percebo assim, a possibilidade de trazer conceitos como estados de presença, construção de subjetividades e memória.

VAI PASSAR

Texto curatorial Marcio Harum

A instalação VAI PASSAR de Malka Borenstein, essa estrutura inteiriça formada pelo atravessamento de sete espaços diversos, é um projeto voltado ao estímulo de sensações corporais e imagens mentais. O trabalho convida o participante a ativar a consciência de sua memória, tal qual é suscitada pelo contato físico com o estranhamento de texturas e espessuras dos materiais: tecidos, fios, plástico e borracha. VAI PASSAR abre campo para que o corpo seja a superfície sem fronteira da experiência. Em visitação, o público decide, posto diante de si, como,e de que maneira, se relacionam com o desafio do enfrentamento através da passagem. 

A propósito, Malka concebeu a instalação inspirada em um livro de artista nas dimensões da escala humana, para que, assim, as divisões por área sejam ultrapassadas, rememorando algo que nos afete vivamente pelo sentido impresso da leitura de capítulos de uma publicação em nossos corpos.

Desde o início da trajetória da artista, o corpo tem sido o assunto principal na elaboração de suas pesquisas. Em sua produção, a necessidade física de tatear, esbarrar no outro, tornar-se permeável, é o que gera uma reflexão acerca da capacidade de nos moldarmos, mas também de sairmos fora dos moldes. VAI PASSAR lida com a noção da dificuldade de resistirmos, e de não mais sobrevivermos isoladamente. Uma teia que evoca a possibilidade do corpo sem contorno de transformar-se em coletivo, mesmo quando assistimos apenas a passagem do outro.

Com a instalação, a artista propõe um percurso de ação, e de experimentação espacial. E descobre agradecimentos palpáveis sob camadas de pele. VAI PASSAR é indicado para qualquer corpo sensível que se mova no espaço.