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RoomSound Series – Nicolau Centola

 

RoomSound Series | Nicolau Centola | soundart | 2020-2022

 

RoomSound: fluxo sonoro infinito

RoomSound Series é um conjunto de produções de soundart, geradas a partir do tratamento digital de standards da música erudita, baseado nas técnicas do belga Henri Pousseur de transformação da duração do material sonoro até torná-los irreconhecíveis e, desta forma, criar novas formas e significados.
Desta forma, os arquivos digitais originais tiveram sua duração aumentada, até atingirem entre oito e dez horas. Esta ação resulta em um arquivo sonoro que ultrapassa a amostragem original, eliminando qualquer possibilidade de identificação, o que transforma o registro original em outra composição.
O resultado deixa de representar a música original, se transformando em outra estrutura sonora que não é mais música. No limite, é um fluxo sonoro infinito que, em caso de execução em um determinado local, passa a fazer parte deste ambiente. Torna-se um som perene daquele local, semelhante a uma pintura na parede, uma escultura, ou qualquer obra de arte visual.
 

Foram produzidos, até o momento, os seguintes RoomSounds:

#1 – Johann Sebastian Bach – Cantata BWV 67 “Halt im Gedächtnis Jesum Christ”
#2 – Dieterich Buxtehude – Passacaglia in D minor, BuxWV 161
#3 – Gustav Mahler – Adagietto (Sehr langsam) – Sinfonia no 5
#4 – Mendelssohn –  Hark The Herald Angels Sing
#5 – Iannis Xenakis – Concrete Ph
#6 – Eliane Radigue – Vice Versa etc – Backward 9,5
 

Todos estão disponíveis na plataforma Mixcloud:

Esta série trabalha a questão da extremidade a partir do tratamento do material sonoro no limite da audibilidade, até a sua desconstrução. O registro digital de áudio está sob o regime do teorema de amostragem de Nyquist-Shannon, segundo o qual para que um sinal sonoro digitalizado possa ser reconhecido quando novamente transformado em sinal analógico, ele deve ser amostrado pelo menos duas vezes a cada ciclo da onda sonora. Como o ouvido humano tem como limite superior de audição 20 kHz, são necessárias pelo menos 40 mil amostras por segundo. Como exemplos, o formato CD tem, por definição, uma taxa de amostragem de 44,1 kHz e o formato DVD, 48 kHz.

Ao estender a duração de um arquivo de áudio da série RoomSound para dez horas, diminuimos este taxa de amostragem entre dez a vinte vezes, dependendo da duração original da peça. Esta ação introduz elementos de casualidade quando escutarmos novamente este som, pois será impossível para o sistema computacional refazer a onda original, pela falta do mínimo necessário de amostragem. Cria-se então uma nova onda sonora.

A série RoomSound pode ser apresentada de duas formas. A primeira é pela transmissão digital, por sistemas de streaming em tempo real ou armazenadas na nuvem e acessadas on demand.

A segunda, e mais interessante forma, é como instalação sonora. Nesta opção, deve-se reproduzir a obra em uma caixa bluetooth, ou mesmo o celular, e posicioná-lo em uma parte do ambiente, doméstico ou público, e esquecê-lo lá pelas próximas dez horas, incorporando o som ao ambiente.

 

Nicolau Centola

Doutor pelo Instituto de Artes da Unesp, com pesquisa sobre a questão do acaso na arte sonora, mestre em Educação, Arte e História da Cultura no Mackenzie, onde estudou a instalação Poème Électronique e engenheiro eletrônico pela Unicamp. Integra o coletivo de arte [+zero], desenvolvendo obras nas áreas de soundart, arte computacional, arte digital, performances e instalações. Participou de exposições em diversas cidades do Brasil e em Colônia (Alemanha), Londres (Inglaterra), Linz (Áustria) e Arad (Romênia). Docente desde 2005, já ministrou aulas em instituições como PUC/SP, Cogeae/PUC, Belas Artes, FPAC, FAM, Faculdade Impacta de Tecnologia, Faculdades Oswaldo Cruz e Unifieo.